Em um festival com mais de 300 filmes, 20 pode parecer um
número baixo. Mas, após dez anos acompanhando a Mostra, já aprendi que não é
preciso nenhuma cifra astronômica para alguém poder afirmar que aproveitou o
festival.
Vou escrever brevemente sobre seis dos filmes a que já
assisti até o momento. Posteriormente, os melhores terão uma crítica mais
longa. Adiantando, o meu favorito até agora foi “No”, do chileno Pablo Larraín,
escolhido para ser exibido, inclusive, na abertura da Mostra. O pior,
infelizmente, foi “Vidas Curdas”. Digo infelizmente porque sou um fã do cinema
da antiga Pérsia e adjacências.
Bom, vamos a algumas impressões rápidas sobre eles:
“No”
Filme empolgante, tanto na temática, quanto na forma. Com
Gael Garcia Bernal no elenco, o longa de Pablo Larraín conta a história do
plebiscito que definiria a permanência ou saída do General Augusto Pinochet do
poder. Gael é um publicitário cooptado para trabalhar na campanha publicitária pelo “Não”
ao ditador.
“Post Mortem”
Também dirigido pelo chileno Larraín, o filme volta a tocar
na questão Pinochet. Muito diferente de “No”, este filme de 2010 tem ritmo e
pegada muito menos convencionais. Fez sucesso em festivais importantes, como
Veneza, mas não me empolgou muito. Vale pela atuação de Alfredo Castro,
recorrente na filmografia de Larraín.
“Era uma vez no Oeste”
Foi um grande privilégio assistir ao clássico de Sergio
Leone, de 1968, restaurado em uma impecável transposição digital, que não lavou
a fotografia, tampouco tirou a textura da película. Ainda mais pelo fato de a
musa italiana Claudia Cardinale ter comparecido à sessão. Leone era um gênio. A
sua câmera precisa capta com excelência a tensão psicológica e transmite a
sensação claustrofóbica, por mais contraditório que isso possa parecer, do ermo
velho oeste dos Estados Unidos. Tudo embalado pela música épica e Enio
Morricone e atuações fantásticas de Charles Bronson, Henry Fonda e Jason
Robbards.
“Cinejornal”
Uma colagem de trechos de cinedocumentários da propaganda
oficial comunista nas décadas de 1950 e 60, montado por Sergei Loznitsa. Um
retrato da União Soviética da época pelos olhos de seus comandantes. Uma aula
de história e de montagem. Um documentário sem narrações, sem voice over.
Apenas as imagens da época, encadeadas de uma maneira a dar um aspecto
narrativo ao filme. Sensacional.
“Um alguém apaixonado”
Para quem gosto do circuito de arte de cinema, não havia
como não se interessar por um filme do iraniano Abbas Kiarostami, filmado no
Japão, com produção francesa. Com sua velha mania de narrar filmes sem se
preocupar com explicações, Abbas vai nos revelando, pouco a pouco, a história
de algumas vidas que e cruzam quase ao acaso em dois dias em Tóquio. Interessante
por vários motivos.
“Vidas Curdas”
Um falso “filme iraniano”. Da escola cinematográfica do país
de mestre como Abbas, Ghobadi e Mahkmalbaf, o diretor Shiar Abdi emprestou a
linguagem sec, o cenário árido a e as atuações não-profissionais. Mas, na ânsia
de tentar emocionar a qualquer custo, o turco fez apenas um filme quadrado, com
música edificante em momentos em que queria arrancar emoção da plateia. De
interessante, apena o relato do começo do genocídio contra os Curdos, cuja
“nação” é nada menso que um enclave entre Turquia, Irã e Iraque.
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